quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Mais um surto de amnésia

Escrito em 4/10/07.

Faltam ainda 8 dias. Aproximadamente 192 horas até o próximo Dia das Crianças. Essa mesma contagem eu fazia quando era criança; a diferença é que, quando chegava o tão esperado dia, poucas eram as unhas que restavam para contar história.
Confesso que era bom receber presentes. Como a maioria das meninas, passei pela época das barbies e jogos. Mas o 12 de outubro significava mais do que novos brinquedos na prateleira do quarto. Era o meu dia. Amava ser criança. Não tinha pressa em crescer. Olhava minhas amigas brincando de serem adultas, colocando maquiagem e os sapatos das mães. Já eu.. sabia que o mundo não era o meu conto de fadas.
O Dia das Crianças de 1997 não foi alegre como os anteriores. O primeiro depois da morte da avó que eu tanto amava - Vó Nona -, realmente minha segunda mãe. Naquele tempo havia uma tradição lá em casa no dia 12 de outubro. Todos voltavam a ser criança, até mesmo a minha avó. Brincávamos de tudo um pouco. Mas esse ano foi diferente, faltava o jeito desengonçado de Vó Nona brincando de “Imagem e Ação” conosco.
Dez anos se passaram e a dor se transformou em saudade. O amor... este posso afirmar que nunca acabou. Sei que assim como qualquer outra pessoa, ela tinha defeitos. Sempre ouvi a frase “Depois que morre, todo mundo vira santo”. Não concordo. O passar dos anos não fez com que eu colocasse um tapete sobre as coisas que ela fazia de errado, como no dia em que escondeu dos meus pais um grande hematoma meu, fruto de uma queda que levei ao cair de uma cadeira escorregadia. Eu estava simplesmente tentando alcançar a janela e enxergar minha mãe voltando do trabalho.
O que esses anos me fizeram enxergar foi que, diferentemente do que aconteceu comigo, nem é preciso esperar que as pessoas morram para que seus erros sejam esquecidos. Os Fernando´s Collor e Renan´s Calheiros da vida são exemplos do que eu aprendi. Dez anos passados e ainda recordo os pequenos relapsos que minha avó cometeu - por amor e tentando me proteger. Enquanto isso, milhares de pessoas parecem ter esquecido montanhas de dinheiro desviadas por nossos representantes. Roubos, notas-frias, laranjas e mensalões vão sendo perdidos no inconsciente.
Acredito que eram coisas como essas que minha mãe queria adiar ao máximo que eu soubesse. Acho que no fundo o que ela queria realmente era fazer do nosso 12 de outubro, o dia-a-dia. Tentar trazer a magia do Dia das Crianças para os outros 364 longos dias. Felizmente eu soube aproveitar cada ano. Cresci com eles, inclusive com a perda da minha avó. Recordo cada sorriso e cafuné que ela me dava. Mas... diferente de boa parte da nossa sociedade, também lembro das fraudes dos nossos governantes. Esses mesmos que ainda estão aí, diante de nossos olhos, mandando e desmandando. Alguns ainda passam um tempo longe, mas voltam com a cara lavada... só não sei para onde vai essa lavagem. Como dizia minha avó: “Brasileiro tem memória curta”.

Um comentário:

Ricardo [DIVERSITÀ] disse...

olhar avesso a

ou

olhar ao avesso?

ou os dois?


obrigado pela entrada franca, obrigado pelas palavras =]

adicionada na blogroll do DIVERSITÀ.

bj