quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Apenas mais um número

Confesso, nunca fui uma criança fisicamente muito saudável. Talvez não pareça fazer sentido essas lembranças do passado agora, mas é no que penso ao escutar ao longe as notícias que passam na televisão da sala. Pode ser contraditório, mas prefiro aquele tempo. Eram crises de asma, sinusite e como se não bastasse, otite aguda. Muitas - ites e um ouvido quase estourado. Pois bem, quase... hoje funcionam perfeitamente, atém mais do que eu gostaria.
As enfermeiras dos hospitais me conheciam de longe. O nebulizador passou a não surtir efeito. Fiz uso das mais inovadoras bombinhas do mercado. Nos intervalos entre as crises, parecia outra pessoa. Uma criança comum. Eu sabia que em qualquer indício de piora, era só pegar a carteirnha do plano de saúde, ligar para o pediatra e encontrá-lo no hospital.
Anos se passaram e os resquícios dos cansaços foram junto com eles. As - ites? Aprendi a administrá-las. Minha saúde se encontra estável, mas não os meus receios. Dizem por aí, “corpo são, mente sã”. Não concordo. Respiro perfeitamente, mas não posso contar com o médico pronto para me atender caso seja necessário. Perdi meu convênio.
As notícias da tv continuam se repetindo. Todos os canais relatam: greves e mais greves no Sistema Único de Saúde. O Hospital Universitário (HU) permanece parado há mais de dois meses. O antigo PAN de Jaguaribe, hoje CAME, voltou de uma pequena greve com apenas 1/3 do quadro médico. Ainda dizem que o atendimento está se registrando às urgências. Quer dizer que o senhor que morreu de parada cardíaca na fila do hospital estava exalando saúde?
Minha respiração começa a acelerar, voltam os sintomas da antiga asma (que meu pediatra dizia ser de ordem psicológica). Esqueci de falar de um pequeno problema cardíaco que tive no passado, mas agora não dá mais tempo. Pensei em ir ao médico, mas não posso fazer a cirurgia que eu precisava e deixei para depois. A fila passa de 500 pacientes e os médicos ainda ameaçam parar de operar.

Acho que vou esperar ficar famosa, numa notinha de jornal de falecimento. Mais uma para as estatísticas.

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