segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Quer um pote?




Tive a prova máxima de que o amor não segue regras, verdadeiramente não tem lógica, isenta formalidades e previsibilidades.

Lembra a senhora, aquela que não sei o nome, minha quase vizinha? É dela que estou falando.. se não leu ou não lembra, é só ver o post do dia 01 de maio.

Abri aquele sorriso quando a vi dobrar a esquina, tentando apressar o passo para pegar o ônibus que se aproximava. Pela primeira vez ela não retribuiu. Não estava com raiva, nem aparentava contrariedades ou dores físicas. Fiquei preocupada.
Pensei ainda em perguntar. Não foi preciso. Ela pulou os cumprimentos rotineiros e, como se tivesse lido meus pensamentos, jogou a bomba: o marido, aquele que a traía, que tinha outra família.. havia morrido.

Racionalmente falando, deveria ter sido um alívio para aquela senhora, que sempre reclamava das estripulias do marido, mesmo ajudando-o quando em seus lapsos de memória e sobriedade ia parar no meio da rua, correndo o risco de ser atropelado.

Mas não. Foram lágrimas o que vi no seu rosto. 57 anos juntos. Mais que uma vida, duas em uma. Sala vazia, cama fria, falta contínua, ausência permanente.. foi tudo o que restou.
Alisei seu braço. A aliança continuava lá. O amor também. Ah, não sei o nome dele. Não faria diferença.

Senti inveja daquela senhora.

Certamente não queria ter perdido um marido, ou mesmo ter um companheiro que me traísse. Senti inveja do amor incondicional. Ratifico, não quero um amor “burro”, cego e tapado. Mas.. não me acho capaz de amar assim.

Aquelas lágrimas passavam o superficialismo e demonstravam um amor maior. A doce senhora não mudou seu discurso, defendendo o marido e exibindo suas qualidades, como muitos fazem quando alguém próximo morre. Mas também.. não era a simples falta de alguém que se estava acostumado a ter perto.

Era amor.. amor.. impossível de descrever, imensurável, desconhecido..

Ela briga. Ele cai fora. Ela reclama. Ele ignora.
Ele volta. Ela esnoba. Ele perdoa. Ela magoa.
Ela chora. Ele bate a porta.
Os dois dão adeus..

Assim é o hoje.. pessoas indispostas a cederem, a serem um pouco do outro, a abrirem mão de olhar apenas para a própria sombra. Não falo em anulação, mas combato o individualismo. Gosto da individualidade. Não acredito em “metades” da laranja. Defendo seres únicos e completos que “escolheram” o outro para também completá-los.
Utópica? Talvez seja preciso.

As pessoas se desconhecem.. parecem não terem tempo para se conhecer.. ou simples falta de vontade.
O resultado?
Não preciso pedir pra você olhar em muitas direções para entender.

Frustrações.. ilusões.. desilusões.. incompreensões..
Solidão.. mesmo não estando a sós.

Acho que vou na casa da minha quase vizinha agora.. pedir um potezinho do amor real que ela guarda.. tenho certeza que dentro daqueles olhos marejados há uma porção deles.

Posso pedir um potezinho pra vc também.Garanto.. nunca é demais!!

8 comentários:

Karoline Cavalcante disse...

Oiii!!
Cada vez mais vc melhora. Essa capacidade de amar é o nosso objetivo como humanos, nós somos capazes disso e VC é capaz disso, só precisamos nos esforçar!!Perdoar é o que essa senhora faz e é o primeiro passo para o amor, digo amor consciente do que é esta palavra, de quão além ela vai e de quão futilmente é posta na boca de tantas pessoas. Desejo que esta senhora esteja feliz e que vc me alegre mais com seus escritos, minha amiga vencedora!!

Ha!!!Acho que preciso do pote, né??XDDDDD

Bjosssss, amiga!!Love ya!!

Noemi Brito disse...

Daniii
Mulher, desculpa a demora, mas eu tinha esquecido que tinha um blog!
(risos)
Tais escrevendo muito beem, que coisa linda é o amor, fundamental e raro..
Eu to pensando em fazer pra jornalismo ano que vem, tu me ajuda? :D hehehe
Tu faz jornalismo né?
Saudadees
Beijoo

Noemi Brito disse...

Danii, eu esqueci de perguntar, esse modelo do teu blog... eu não vi
qual é o nome dele?

Rodrigo Aurélio disse...

Amor mútuo, belo e simples.

Raro, não extinto. Acredito que um dia eu vá olhar pra tras e dizer: Sim, eu amei verdadeiramente, e assim tambem fui amado!

Utopico?!

;)

devia postar mais vezes, seu talento pra escrever é tamanho.

:)

Tarcisio Oliveira disse...

adorei seu texto. chega to emocionado aqui!

vc bem que poderia escrever mais vezes né?!

Unknown disse...

Dani... pára com isso! Fica humilhando os outros, só porque se dá muito bem com as palavras...axo isso um absurdo :P
hahahaha
Infelizmente o amor está perdendo o sentido quase que por completo. Amar está se resumindo a 'aproveitar' o outro, não é nem mesmo a companhia do outro, mas o corpo e tudo mais de que possa tirar proveito.
Quanto mais a sociedade evolui (ou pensa que evolui) mais o conceito de 'amor' se aproxima dos animais, com a diferença de que nós axamos que sabemos pensar.
A capacidde intelectual não tem tornado a sociedade mais feliz ou mais comprometida. Pelo contrário. Tem se tornado mais burra, infeliz e solitária.
Eu também não acredito em 'metades da laranja', mas em uma individualidade compartilhada. Onde o 'eu' não deixa de existir, sendo substituído pelo 'nós', é levado a segundo plano, fotalecendo a união e a personalidade individual das 'laranjas completas'.
Axo que já viajei demais! Espero que tenha dado pra entender :P
hahahahahah
Mais uma vez: admiro a tua capacidade de escrever, com toda sinceridade,viu?!
Que Deus te abençoe muito e a cada dia mais!
Beijaoo

Tarcisio Oliveira disse...

tenho certeza que seus textos são muito mais universais e tocam muito mais a alma humana do que os meus.
continue assim
sucesso!

May disse...

Dani, acho que todos nós procuramos um potinho desses, não é? É o que precisamos: exercer realmente o amor, pois pra mim ele só é verdadeiro quando aceitamos o outro do jeito que é, quando se tem um problema e procuramos uma solução para os dois e não só para si e quando nos entregamos por inteiro sem esperar que o outro seja perfeito. O que vivemos hoje é o mundo do eu, em que as pessoas estão preocupadas em "garantir o seu". Se preocupam tanto com si mesmas que quando param para pensar, percebem o vazio de suas relações e de seus sentimentos. Mesmo com dinheiro, saúde, prestígio,"companhia" fica sempre faltando uma coisinha. E como tem importância esse pequeno detalhe, que é amar... amar de todo o coração.
Obrigada por tudo que li e por me fazer conhecer um pouco mais do teu avesso.

Beijos da que é a cada dia mais e mais tua amiga,

May